
É do tempo em que ainda não existia ISBN, “herdei-o” quando comprei a minha primeira casa e tenho andado a lê-lo... embora não exactamente para adormecer. São histórias breves ou fábulas de três ou quatro páginas, que têm sabor a infância e a serões passados à conversa sentados na soleira da porta, nas pausas entre correrias ou jogos das escondidas... fazem lembrar tempos idos e trazem-me sempre também recordações de aconchego, das danças guiadas pelos pés dos avós, que eram capazes de rodopiar comigo como se eu não tivesse peso, e da sua paciência e sorrisos sempre disponíveis, apesar das insistentes “Outra vez! Outra vez!!”.
Naquela altura contava-se contos em família, ou entre amigos e vizinhos, cá fora, ao crepúsculo... e noite dentro...
Esta vivência do conto como algo, em certa medida, comunitário começa a regressar às nossas vidas, embora ainda integrada em cartazes de eventos culturais e com hora marcada. Mas é um bom (re)começo.
Um excelente exemplo deste contar para a comunidade aconteceu recentemente em Oeiras. O festival Ondas de Contos, já na sua terceira edição, ocorreu no passado dia 27 de Junho na Praia da Torre. Previa-se que terminasse à meia-noite, mas prolongou-se muito para lá dessa hora... não se resiste aos contos, mas com o frio, o vento e o soninho, muitos tinham já abandonado a praia quando, já depois da uma da manhã, Tim Bowley subiu ao palco.
É certo que estava já muito cansada e com frio, mas com a companhia da Anica e da Carolina (que estava decidida a não perder pitada daquele serão!) fui-me deixando ficar...

E valeu a pena... o Tim Bowley é um contador delicioso, as frases ritmadas, a expressividade nos gestos, no rosto... é totalmente cativante. Cativou-me na primeira vez que o ouvi, vai para mais de cinco ou seis anos em Coimbra, acompanhado pela fabulosa Casilda Regueiro, uma galega de ar genuíno, espontâneo, que vai traduzindo com uma expressividade impressionante as histórias que ele vai contando. São uma dupla irresistível. Nesse ano vi-os duas vezes; em Coimbra, nos Encontros sobre o Conto, e em Montemor, no castelo, à volta de uma fogueira, num daqueles cenários dos contos que sabe bem contar e ouvir contar.
Também neste encontro, ouvi pela primeira vez a Cristina Taquelim. Gostei imenso de a ouvir contar. Senti-me “em casa”. A história da velha que tinha uma figueira à porta de casa é absolutamente fantástica.
Gostei muito, muito, muito de uma outra contadora, que se apresentou pela primeira vez, a Margarida Vieira. Contou a história d’ “A girafa que comia estrelas”, de José Eduardo Agualusa... uma delícia esta história e uma doçura a contadora.
Foi saborosa esta noite de contos na praia, acompanhada pela segunda fornada de bolachinhas de alfazema da história do forno cá de casa :)
